terça-feira, 3 de maio de 2011

Ficção x Realidade ou Ficção = Realidade?

Juro que queria fugir do clichê existente na comparação entre 1984 e Admirável Mundo Novo. Mas, é praticamente impossível. Quem lê as obras de George Orwell e Aldous Huxley, respectivamente, não consegue de forma alguma dissociar as duas histórias.

Apesar de escritos em épocas e lugares diferentes, as semelhanças são gritantes. Em um futuro distante, as pessoas se veem coagidas, repreendidas e alienadas. É claro que as maneiras em que isso acontece são diferentes, mas o conceito é praticamente o mesmo.

Em 1984, as pessoas eram prisioneiras do governo. Vigiadas noite e dia, eram obrigadas a reverenciar o Grande Irmão (líder supremo do partido), sem direito a luxos ou coisas muito mais simples, e por isso mesmo, mas importantes, como liberdades de escolha e pensamento.

Já em Admirável Mundo Novo, as pessoas, criadas em laboratório, eram condicionadas desde antes de seu nascimento a serem felizes. A viver de acordo com aquilo que lhes era apresentado, como se fosse a única possibilidade existente e aceitável. O governo acreditava que pessoas alienadas não entrariam em conflitos e, através da submissão, poderiam transformar o mundo em algo estável.

Enquanto os personagens de George Orwell sofrem com a repressão, os protagonistas de Admirável Mundo Novo vivem uma falsa impressão de liberdade. O que me faz perguntar: qual dessas situações seria a melhor (ou, menos pior)?

Por um lado, as pessoas retratadas por Aldous Huxley presenciam uma certa dose de felicidade. Mas, ao mesmo tempo, esse sentimento é algo imposto pelas autoridades, não é natural. E, sem saber, elas se satisfazem com seu cotidiano, com a rotina, com o status e a hierarquia. Ninguém valoriza as relações interpessoais ou o indivíduo em si. O importante é o coletivo. E, quando desanimado ou infeliz, o personagem é entregue ao “Soma”, uma droga que alivia qualquer sentimento de questionamento ou tristeza.

Em 1984, o sentimento de infelicidade é geral. As pessoas trabalham feito escravas e vivem uma ditadura da mais rigorosa. Não podem manter relacionamentos afetivos profundos e verdadeiros ou qualquer tipo de pensamento que contrarie os impostos pelo Grande Irmão. Os personagens são simples, vivem uma rotina árdua e não possuem livre arbítrio. Mas, apesar disso tudo, são pessoas conscientes de suas condições e sofrimentos.

E apesar de todas essas diferenças, os autores (mesmo há muito tempo atrás) conseguem ser atuais até os dias de hoje e atingem os mesmos objetivos. Orwell e Huxley questionam a influência do poder na vida de toda uma sociedade e, ao mesmo tempo, a falta de individualidade dos seres humanos.

1984 e Admirável Mundo Novo refletem o detrimento do indivíduo em “benefício” da comunidade. Mas, é válido pensar: será que os fins justificam os meios? Além disso, será mesmo que a organização e estabilidade refletem em sucesso e felicidade? Acho que George Orwell e Aldous Huxley publicaram seus livros (em 1949 e 1932, respectivamente) prevendo um futuro marcado pelo autoritarismo e repressão. É claro que, por serem ficções, as obras exageram e pontuam características peculiares um pouco além da “realidade” para chamar a atenção e prender o público. E, mesmo assim, são fortes, presentes e, posso até dizer, assustadoras, pois são próximas e factíveis.

Temo pela perda de civilidade dos seres humanos, que foi adquirida tão lentamente e aperfeiçoada geração por geração. Receio também que os instintos falem mais alto do que a consciência e que não haja mais solidariedade e respeito mútuos. Mas, ainda acredito nas pessoas e torço pra que esse tipo de ficção nunca se torne realidade.

Obs: Vale lembrar que a leitura de 1984, de George Orwell, e Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, são imprescindíveis para qualquer amante de literatura ou para aqueles que simplesmente desejam entretenimento eficaz e inteligente. Recomendo!

3 comentários:

  1. um futuro como esse seria mesmo de arrepiar.
    Também não acredito que cheguemos a tal ponto...ou pontos...

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  2. Fê, seu blog é muito culto.. Vou continuar lendo os de futebol mesmo..hehe

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