quarta-feira, 1 de junho de 2011

Um tapa na cara da história do Brasil


Se o principal objetivo de Leandro Narloch com o “Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil” era irritar os leitores, como ele mesmo afirma na apresentação do livro, preciso dizer que comigo ele falhou.

Sempre fui conhecida por ser “do contra”. Nunca segui modismos, não gosto de unanimidades, busco controvérsias e procuro o outro lado da versão oficial. Ou seja, a obra de Narloch praticamente foi escrita por mim! Brincadeira e modéstia à parte, acho válido desmistificar verdades absolutas, que nem sabemos se realmente são realidade.

A maioria dos temas abordados no livro são ensinados nas escolas como fatos indiscutíveis. Mas, eu, como curiosa e jornalista que sou, me questiono se a história foi exatamente assim. Assuntos como escravidão e a colonização, por exemplo, sempre mostraram o óbvio: negros e índios pobres indefesos que sofreram barbaridades tremendas nas mãos de brancos e portugueses.

Isso tudo é mentira então? Nada daquilo que nos foi contado aconteceu de verdade? Calma, não é bem assim. Barbáries foram sim cometidas contra muitas pessoas. Injustiça e desigualdade social existem desde sempre na nossa história. Mas, para deixar a trama com um tom mais dramático e, até diria, emocionante, alguns detalhes são esquecidos nos livros. E foi isso o que mais me conquistou nas narrativas de Narloch. Pela primeira vez, encontrei um ponto de vista da história que mostra que os negros e índios não eram tão fracos, oprimidos e ingênuos como eu imaginava. Eles souberam utilizar as circunstâncias em que viviam a seu favor. Conseguir tirar vantagens e aproveitar benefícios até mesmo da escravidão.

Aquela imagem que temos dos índios como coitados, enganados pelos portugueses, que trocavam pau-brasil, a maior riqueza do país na época, por míseros espelhos, é um mito. Eles realmente fizeram esse negócio. Mas, para eles, naquela circunstância, foi muito vantajoso. Afinal, eles estavam trocando uma plantinha que dava em tudo quanto é lugar por um objeto “mágico” que refletia a sua própria imagem nunca antes vista. Não faz sentido? Será que eles eram tão inocentes assim?

E ao contrário do que pareça, mostrar que essas “classes oprimidas” não foram apenas vítimas, só realça ainda mais o seu valor. Será que nosso preconceito não se difunde cada dia mais nas escolas quando ensinamos às nossas crianças que os brancos e europeus eram espertos e inteligentes, enquanto os índios, negros e brasileiros, eram bobos e ingênuos?

Mas, Leandro Narloch vai muito além. Ele diz aquilo que todo brasileiro sabe, mas não admite: Santos Dumont não inventou o avião! Relaciona as origens do samba, o ritmo mais famoso e popular do país, com o fascismo, regime ditatorial implantado na Itália. Questiona a existência de um dos mais importantes artistas do Brasil, o Aleijadinho. Mostra os lados obscuros de escritores brasileiros tidos como mito: o trabalho como censor do governo realizado por Machado de Assis, ou José de Alencar, que era contra a abolição da escravatura. Defende o Brasil, pela primeira vez, em seu papel exercido na Guerra do Paraguai e mostra que nosso país vizinho não foi vítima coisa nenhuma. E isso tudo de maneira muito divertida!

É claro que, assim como os livros de escola, o “Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil” também não pode ser tido como verdade absoluta. Apenas, é interessante investigar o outro lado, sempre com bases e pesquisas profundas e documentadas. E também deixo claro que não concordo 100% com as exposições de Narloch. No livro, ele mostra que o Acre é um dos maiores desperdícios de dinheiro do Brasil. O que é gasto no Estado pelo governo federal não gera retorno necessário para mantê-lo. O autor, inclusive, afirma que se o país, ao invés de anexar o Acre ao seu território, tivesse utilizado o dinheiro em investimentos no transporte público, São Paulo teria hoje o triplo de linhas de metrô. Ok, isso pode até ser verdade. O Acre pode realmente não gerar grandes benefícios financeiros ao Brasil. Mas, e a questão cultural? E as riquezas populares tão presentes do Norte ao Sul do país?

O autor simplesmente fecha os olhos para determinadas questões para dar mais valor aos pontos que defende em sua obra. Mas, isso já era de se esperar, porque, afinal de contas, o livro foi escrito para isso mesmo: contestar, polemizar e irritar. Pena que comigo não deu certo. Mas, confesso que eu adorei!